Algures entre os meus 13 ou 14
anos, quando saia de uma sessão de cinema de sábado à tarde tomei uma decisão:
Quero namorar!
Assim, a seco, sem preparação,
tomei uma decisão importante que não iria mudar a minha vida, mas iria mudar
aquele dia de tal forma que passados que estão mais de 30 anos, me lembro como
se fosse hoje.
O filme que tinha acabado de ver era “la Boum”, um filme
sobre os primeiros amores da adolescência. Os medos, os olhares, os toques, os
beijos e os desencontros.
Se fosse hoje, colocaria um post
no facebook a dizer: “a sentir-se …. Alguma coisa” Eventualmente enviaria a
mesma mensagem no whatsapp a todas minhas amigas mais giras : “Estou bué com vontade de estar contigo” e
ainda que virtualmente, estaria pouco depois a namorar.
Hoje seria muito mais fácil fazer
acontecer; naquela altura os recursos eram mais limitados e o único meio de
contacto que existia era o telefone fixo. Eu tinha de fazer alguma coisa
naquele mesmo dia e não podia esperar para 2ª feira porque a minha decisão
estava tomada e não queria vacilar.
Infelizmente a minha Agenda telefónica
de potenciais namoradas só tinha ….. uma pessoa !
As opções eram, por isso, muito limitadas. A decisão estava tomada e decidi que era com a M. que eu queria namorar.
As opções eram, por isso, muito limitadas. A decisão estava tomada e decidi que era com a M. que eu queria namorar.
Tinha de voltar para casa,
telefonar-lhe e preparar aquele que era o meu desígnio. Depois de ver
aquele filme percebi que gostar de alguém podia ser muito bom. Não podia ser
qualquer rapariga obviamente mas também não tinha de ser uma em particular. Não procurava paixão nem sabia o que era. Procurava simplesmente uma namorada. A M era a
escolhida por exclusão de partes e eu gostava dela o suficiente para que fosse
ela a primeira daquilo que eu julgava vir a ser uma extensa lista.
De mãos nos bolsos, fiz o caminho
que levava a minha casa, naquela que foi a minha primeira hora de melancolia. Pensei em como seria a semana seguinte na escola: Os
intervalos de mãos dadas, os beijos furtivos, os encontros e as despedidas.
Criei um guião em que só faltava a intérprete principal.
Foi imbuído desse espírito que
cheguei a casa já depois do entardecer.
Demorei mais de uma hora a
preparar o diálogo, a abordagem, a forma de ela perceber que eu queria namorar
e como poderia ser bom para os dois. Ela gostava de mim ma apesar disso preparei-me mentalmente para ela dizer que não mas preparei-me sobretudo
para ela dizer que sim.
Finalmente, ganhei coragem e
encaminhei-me para o hall da minha casa, onde estava um daqueles telefones
pretos enormes e assustadores. Assegurei-me que todos estavam nos seus afazeres
noutras partes da casa e tinha o mínimo de privacidade e a tremer marquei os números
naqueles discos que demoravam uma eternidade a voltar ao ponto de partida.
Passada uma eternidade, tocou do outro lado… uma vez,
duas vezes … finalmente atendeu uma voz de mulher, provavelmente a mãe.
- Estou ?
- Boa tarde. A M. está, por favor?
- Não, ela não está. Quer deixar
recado?
- Não, obrigado.
Respirei de alivio.
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