VISTO DAQUI.... NÃO SEI

VISTO DAQUI.... NÃO SEI

domingo, 15 de novembro de 2015

Não estavas lá

Percebi ao longo do tempo que a Vida e as coisas da Vida têm muito mais sentido se partilhadas com quem Amamos. Tudo pode ser Nada se não sentirmos o prazer de dividir, multiplicando o que sentimos.

O que tive o privilégio de partilhar ocupa um espaço maior na arrumação das minhas memórias e tem um lugar de destaque na estante da minha vida. As memórias do que que vivi sozinho, por mais belas que tenham sido, estão lá, mas noutro lugar, onde, de vez em quando, são trazidas à superfície, para que não morram esquecidas. Viveram comigo e morrerão comigo sem direito a orfandade. Algumas pessoas terão talvez, uma vaga lembrança de as terem ouvido num jantar, entre dois copos, ou até numa cama ditas em voz baixa, mas em pouco tempo desaparecerão para sempre no cemitério das lembranças onde tantas outras jazem há milhares de anos.

Pode ser demasiada pretensão da minha parte achar que as minhas lembranças e as minhas vivenças, teriam que me sobreviver, mas elas são o pobre legado que aspiro a querer deixar e para isso quero partilhá-las, quero que sejam parte da vida de mais alguém. Alguém para quem serão também uma memória e não a vaga lembrança as ter ouvido.

Ver uma folha a cair num dia de sol de outono pode ser mais belo que qualquer obra de arte se for vista com quem Amamos. A sua queda lenta e baloiçada pode demorar uma eternidade no calor de um abraço ou um segundo na amargura da solidão.

Recordo o momento único em que sou arrebatado. Recordo que o tempo parou e tudo ficou suspenso na admiração da beleza do que estava à minha frente.

Pode ter sido um quadro mas também pode ter sido uma paisagem, um livro, um filme ou até um momento, porque a beleza aparece muitas vezes onde e quando não estamos à espera.

Não me recordo dos detalhes, mas recordo a intensidade do que senti. Recordo a contemplação, mas recordo sobretudo, olhar para o lado e não estares.

Recordo-me de pensar que queria que estivesses lá e de querer partilhar contigo aquilo que estava a sentir. Tocar-te no braço para que, a força do que eu sentia, pudesse passar para ti como uma leve corrente eléctrica que unisse os nossos dois corpos.


Queria ver o reflexo da beleza nos teus olhos, mas infelizmente só vi o reflexo da tua ausência, na beleza do que vi.

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