VISTO DAQUI.... NÃO SEI

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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Amores Eternos

O dia estava solarengo e soprava uma brisa leve que aquecia o ar já frio do outono. Era um jardim que podia ser um jardim em qualquer parte do Mundo. Tinha bancos de madeira onde apaixonados declararam amor eterno à força de canivete; amores que provavelmente já não o eram no momento em que eu, distraído, lia os nomes que ladeavam corações mal feitos.

Pensava naquele momento, em como os amores são efémeros e como juramos tantas vezes amor eterno ao longo da vida. Por vezes sinceros, por vezes só porque o momento assim o exigia e algumas vezes porque era o que queríamos que fosse.

Daquele banco, sentado, via crianças a brincar, casais a namorar, famílias a passear com os pais de mãos dadas a observar a sua prole e via alguns como eu sentados, sós, esperando alguma coisa ou alguém ou simplesmente esperando que o tempo passasse para voltarem para uma solidão em que não esperavam já ninguém.
Todos eles tinham seguramente, em algum momento, jurado amor eterno ou ouvido alguém dizer-lhes que estariam juntos para sempre e todos eles acreditaram que naquele dia, naquele banco, não estariam sozinhos.

Eu observava os olhares, as mãos que não sabiam como se colocar em cima do colo, as poses de quem quer parecer que espera alguém. Observava a pessoas que observavam as pessoas que também as observavam, num carrossel em que cada um ocupava o espaço que lhe era destinado. As crianças nos baloiços, os casais e as famílias a caminhar, deixando os bancos para aqueles que já não esperam voltar a percorrer aqueles caminhos de mãos dadas.

Era como se os bancos tivessem uma placa a dizer: “ RESERVADO” e se a reserva tivesse sido feita no momento em que o Amor eterno jurado, gritado e muitas vezes chorado, acabou. São tantas as razões para que acabe o Amor que todos eles teriam diferentes historias para contar se alguém algum dia os quisesse ouvir.

Quando os Amores eternos se tornam efémeros e desaparecem, todos eles marcam lugar naqueles bancos em que esperam a hora de voltar para a solidão no final da tarde quando a brisa arrefece e convida a levantar.

Usam para voltar, o mesmo caminho que os casais e as famílias usam para caminhar mas o andar é diferente e eles querem sair rapidamente daquele local que não lhes pertence e que só usarão no dia seguinte para voltar.


Sentado no meu banco de jardim, sinto a brisa a arrefecer e levanto-me !

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