Um era pequeno o Outro era grande,
mas eram grandes amigos. O pequeno era mais cerebral e talvez a sua estatura o
tivesse obrigado a criar defesas de que o maior não necessitava no duro dia a dia
da escola, da casa, do trabalho e em todas as ocasiões em que se enfrentavam
com alguma dificuldade.
Eram amigos desde o tempo em que
ambos eram pequenos e percorriam os caminhos da escola em conjunto, para
aprender que afinal de contas, aprender não os faria sair dali e que ficariam
toda a vida na aldeia.
Eram filhos de famílias humildes,
de pais trabalhadores e as suas infâncias foram passadas maioritariamente na
rua, nas brincadeiras típicas de aldeia. Os seus nomes e o da aldeia não
importam porque poderiam ter qualquer nome e crescer em qualquer aldeia
parecida com esta
Cresceram juntos, descobrindo ao
mesmo tempo os prazeres dos beijos roubados, dos beijos mais longos e molhados
e finalmente do sexo, normalmente rápido e desconfortável com as raparigas que
iam e vinham em trabalhos jornaleiros nas quintas das redondezas.
Ambos casaram no mesmo ano e na
mesma igreja. O pequeno com uma mulher ainda mais pequena e o grande com uma
mulher que sem ser grande se acomodava melhor nos seus braços que as pequenas
com as quais tinha namorado.
Ambos tiveram filhos, o Grande
teve filhos grandes e o pequeno por mais estranho que parecesse também teve
filhos grandes, maiores que os filhos do seu amigo. Talvez a genética não fosse
assim tão importante afinal.
Ao longo dos tempos, o café da
aldeia foi o poiso diário onde descarregavam entre bagaços e sueca, as
desilusões de uma vida a que faltava o sal e a pimenta. Lá encontravam o José,
o Anastácio, o Manel e tantos outros que cresceram com eles nas ruas e se
fizeram homens na fábrica que empregava quase todos os habitantes da freguesia, substituindo-se
ao trabalho duro do campo que foram, um a um, abandonando.
Com os anos, os filhos foram-se,
as mulheres ficaram velhas e já nem o sexo tantas vezes feito sem chama, mas
que lhes aliviava a alma, quebrava a rotina das semanas.
Com o fecho da fábrica veio o
desemprego e a rotina passou a ser unicamente a do café. O tempo já não passava
como dantes; os ponteiros do relógio tinham ficado mais pesados e moviam-se mais
devagar num movimento que parecia a caminhada até casa dos seus corpos cansados
depois de alguns copos: lenta, sem sentido nem direcção certa.
Hoje, o grande já não é tão grande
e o pequeno é cada vez mais pequeno; as mulheres já foram e os seus funerais já
são vagas memórias de mentes cansadas.
Já nada é grande e o caminho que lhes
falta é cada vez mais pequeno.

Sem comentários:
Enviar um comentário