VISTO DAQUI.... NÃO SEI

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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

QUE MAIS PODE PEDIR UMA MULHER PARA SER FELIZ ?

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Ela seguia caminho sob a chuva, sem levantar a cabeça; olhos pregados ao chão, evitando pisar as riscas do cimento no passeio. Tinham passado muitos dias e ainda não tinha conseguido ver claro. Foi como se um tornado se tivesse abatido sobre o puzzle da sua vida. Agora, ela tentava com esforço, em pouco tempo, reconstruir o que lhe tinha custado 28 anos a montar.

Até aquele dia, as peças tinham-se encaixado uma a uma sem dificuldades; tinha tido uma infância minimamente feliz, os vários graus escolares tinham-se sucedido sem grandes aventuras nem desventuras. O primeiro amor aos 10, o primeiro beijo aos 13 na mesma altura do primeiro desgosto. A primeira vez surgiu naturalmente com um namorado aos 16, sem fogo-de-artifício nem fanfarra mas também sem dramas; a faculdade, um curso acabado com uma nota média, o 1º emprego, o 2º emprego, alguns namorados mais ou menos sérios e finalmente ele.

Como se toda a sua vida tivesse sido programada para chegar a ele

Ele era tudo aquilo que ela alguma vez tinha sonhado que seria o homem da sua vida: Mais velho, mais experiente, alto, cabelo acinzentado e com um leve ar triste de quem já sofreu e já viveu muito.

Ele falava muito, alguns diriam que demais, mas ela ouvia sempre com o mesmo prazer as histórias de uma vida vivida em cheio. Ele ouvia com prazer as suas histórias de ainda menina com um passado que para ele ainda era quase presente, de tão próximo que era.

Encontravam-se muitas vezes e quase sempre faziam Amor; depois ficavam abraçados a fumar e a falar durante o tempo que ainda lhes restava e depois faziam Amor outra vez, queimando já o tempo que não tinham. As despedidas eram tão tranquilas e serenas como fogosos e quentes eram os reencontros.

Ele… bem, ela só conseguia imaginar o que ele sentia porque sobre isso falavam pouco. Sabia que ele gostava e queria estar com ela. Sabia que as manhãs, tardes ou noites de Amor lhe davam prazer porque há coisas que as mulheres sabem.
Assim se passaram meses que lhe parecem já anos, tal era a forma como tinha entrado na sua vida. Lembrava-lhe uma música de Chico Buarque que ela gostava :

“O terceiro me chegou
Como quem chega do nada:
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher”

 “ele me chama de Mulher” , tinha sido isso que tinha feito a diferença. Ele fazia-a sentir-se Mulher, sem ter de o provar, sem ter de explicar, sem ter de o dizer. Ele dizia bom dia como quem diz “Amo-te” e dizia “Adeus” como que diz também “Amo-te”.  Ela não conseguia explicar como se fazia a tradução mas era real e ela ouvia em surdina de cada vez que ele a beijava ou quando calado, encostado a ela, fumava tranquilamente, fazendo círculos de fumo.

Um dia…. Naquele dia, ele não apareceu como tinham combinado, um dia o telefone ficou mudo, um dia ela soube dum acidente . Um dia, todos os dias da sua vida, pareceram vazios.

Um dia! Bastou um dia para que todos os dias deixassem de fazer sentido, os que existiram antes dele e os que viriam depois.

As peças do puzzle já não encaixavam e como poderia a sua vida ter como destino essa felicidade tão efémera como ela acreditou depois de o conhecer?

….. Quando o despertador toucou, ela transpirava e tinha um aperto no peito como se suportasse o peso de uma vida sobre ele.

Ainda ensonada, esticou o braço e sentiu a pela quente ao seu lado , e ouviu o leve ressonar que lhe aconchegava as noites.

Felizmente tinha sido só um pesadelo, talvez provocado pelo vinho em excesso na noite anterior.

Ao seu lado ele dormia.

Era o namorado dela, colega de curso e com quem vivia há já alguns anos.

Ela sorriu.


Ele fazia-a Feliz, Era um homem romântico e acordava-a todos os dias com “um Amo-te”. deixava-lhe bilhetinhos espalhados pela casa e cozinhava para eles.

Ela pensou "Que mais pode pedir uma Mulher para ser Feliz?" ....  

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