Desde que cheguei a Angola e cada dia que passa tenho aprendido algumas coisas sobre o que é estar fora do seu País, longe das pessoas que se ama.
Vejo-me a lacrimejar a ver series
cómicas porque as pessoas mostram emoções por aqueles que lhes estão próximos,
vejo-me a sentir-me só quando sou eu que fujo muitas vezes a estar com pessoas.
É incrível como nos adaptamos a
esta vida, buscando substitutos às coisas que temos normalmente e fugas para
aquilo que não queremos por serem demasiado próximas do que desejaríamos ter
nessa altura.
A maioria das pessoas por aqui,
adapta-se de uma forma ou de outra; umas buscam companhia para enganar a
ausência ou simplesmente porque querem companhia; outros procuram uma “segunda”
juventude ou “segunda” vida porque estão longe e não conseguem estar em “hold”
muito tempo.
Vejo todos os dias pessoas a
estarem juntas, sejam amigos ou amantes que se estivessem em Portugal nem
sequer perderiam tempo a se conhecer; aqui pela lei de oferta e da procura e
pela lei da sobrevivência, as pessoas juntam-se e são felizes por momentos,
fingindo sentimentos, fingindo alegria, fingindo gostar simplesmente.
Outros, em muito menor número estão
genuinamente a viver.
Eu observo! Não consigo fingir
sentimentos, nunca consegui e talvez por isso a minha lista de amigos seja
muitíssimo pequena.
Observo as pessoas a fingir,
observo a pessoas a viver e fico de fora porque não sou um poeta como dizia
fernando Pessoa. Não consigo fingir.
Gosto genuinamente de algumas
pessoas que fui conhecendo; a algumas poderei chamar “amigos” mesmo sabendo que
ser amigo é muito mais que gostar, mas como os outros iludo-me de forma
consciente e neste momento e neste espaço ser amigo tem menos requisitos que na
vida real, porque baixamos barreiras e expectativas.
Toda a gente busca proximidade
pelo afastamento daqueles que são realmente próximos; não se consegue ser
minimamente feliz sem essa proximidade, seja carnal, seja simplesmente de
sentimentos. Por mais “duro” que sejamos, por mais independente que achemos
ser, como dizia o caetano Veloso : “ um carinho sempre cai bem”.
Sinto a falta dos meus filhos,
mesmo falando com eles todos os dias. Sinto a falta da minha casa que só é
minha há 1 ano. Sinto a falta da minha rotina. Sinto a falta de não sentir a
falta de nada.
Por outro lado, estas
experiencias são muito enriquecedoras e são alimento para a Alma e são
sobretudo “viver”. Viver coisas novas , viver emoções novas e sentir.
Todos os dias, acordo num
apartamento que podia ser o meu em Portugal, com as comodidades todas. E todos
os dias, quando chego à rua me surpreendo com o barulho e com os cheiros desta
cidade. Parece que entro numa nova dimensão e que todos os dias são o 1º dia.
Todos os dias me surpreendo quando o Manucho vem ter comigo a anda ao meu lado
até ao carro. Todos os dias me surpreendo quando chego ao carro e vejo o limpa
para-brisas levantado para mostrar que foi limpo. Todos os dias me surpreendo
quando vejo o meu carro a brilhar…
Todos os dias me surpreendo
quando o Manucho me conta as desgraças da vida dele e porque “precisa” de
dinheiro ou de sapatos.
“ O fungi acabou, meu Camba, só
tenho 2 pacotes de massa. Fim de semana foi mau”
“Foi mau porquê Manucho ?”
pergunto
“ Foi mau porque acabou o fungi ,
meu camba !”
Ingenuidade minha!
Mesmo sabendo que a maioria deles
inventa coisas todos os dias para nos “sacar” dinheiro, toca-me porque mesmo os
problemas fingidos são coisa pouca comparados com os problemas reais deles do
dia-a-dia.
Finjo acreditar nas desgraças
para justificar o dinheiro que lhes dou, finjo não me preocupar com os seus
problemas reais quando me mostram uma receita de farmácia por aviar, quando sei
que aquela receita é provavelmente falsa e antiga.
Ai, sim consigo fingir.
Só não consigo fingir as saudades
que sinto daqueles que Amo e todos os dias, no final do dia, quando entro neste
apartamento vazio, a cheirar a limpo, sinto a falta deles; sinto que não estou
em casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário