VISTO DAQUI.... NÃO SEI

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sábado, 31 de outubro de 2015

HORAS INÚTEIS (2)













O tempo não contava.
O tempo em que tivemos
Tempo de esperar
Que o tempo chegasse a tempo.
Sem mais tempo que aquele
Que o relógio deixava

Hoje, o ponteiro só dá horas,
Minutos e falsos preciosos segundos
Que só servem para preceder
Os que a seguir chegam,
Sem nada mais que fazer
Que preceder o seguinte.

Venha então o tempo
Com ponteiros só nossos
Segundos escondidos
Dos minutos que se seguem
E que junto fazem horas
Que o tempo nos dá

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

UM DIA ELA SAIU


Um dia ela saiu, não sem antes me deixar um: “ Vai-te Foder”.

Esta última tirada, seca, e deixada já numa porta entreaberta, doeu mais que tudo aquilo que ela poderia ter feito, ou todas as acusações que ela poderia ter deixado antes de sair do apartamento.

Numa única pequena frase ela despejou tudo aquilo que lhe ia na alma e que merecidamente me deixou como herança desta relação. Fui estupido, egoísta e sobretudo não soube ser homem suficiente para lidar com uma Mulher como ela.

“Vai-te Foder”

Durante horas fiquei sentado no sofá e não consegui mover um músculo nem articular uma palavra. Deveria ter ido atrás dela e pedir-lhe desculpas, mas desculpas de quê?

Desculpa de ser quem sou?

“Ama-me Menos e Gosta mais de Mim!” Ela dizia isso muitas vezes quando nos abraçávamos depois de mais uma discussão em que dizíamos coisas que não queríamos e coisas que não sentíamos. Só hoje percebi a extensão daquelas palavras e o quanto elas teriam sido importantes se as tivesse percebido.

Eu amava-a como nunca Amei e desejava-a como nunca desejei outra Mulher. Mas só por ser como sou, errei em tantas coisas, que gostava de poder voltar atrás no tempo e reviver cada momento em que fiz merda, mas sabendo que estupidamente, faria o mesmo.
Mas eu gostava dela, Juro que gostava!

Agora, prostrado no sofá, tudo me parecia tão estupidamente claro que tinha a formula para que ela nunca tivesse partido; sabia o que deveria ter feito em cada momento em que a desiludi, sabia o que deveria ter dito em todos os momentos em que me calei e sabia sobretudo todas as palavras qe deveria ter calado quando falei demais.

Mas mais que todas as fórmulas, sabia sobretudo que errei e que voltaria a errar se ela voltasse a entrar por aquela porta.

Sentado no mesmo sofá onde tantas vezes nos Amamos, chorei de raiva, chorei de tristeza e chorei de saudade!

Toca o telefone, quebrando o silencio pesado da casa vazia.

“(…)”

“Não pode ser … acabamos … bem… acabei com ela!”


Voltei a ser eu mais uma vez e nesse momento tive a certeza nunca a mereci!


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Carta Aberta ao Meu Marido


Querido Marido,

Quero que saibas que te Amo muito e que nunca deixei de te Amar. Simplesmente há coisas que ficam por dizer e que no dia-a-dia, vamos deixando para 2ª plano na azáfama que uma família como a nossa vive todos os dias.

Já passamos por muita coisa juntos e se Tudo correr bem, ainda vamos passar por muitas mais coisas mas nesta fase da vida em que parece que as coisas estão encaminhadas, gostava que percebesses algumas coisas que te passaram ao lado durante 25 anos e com as quais poderíamos ter sido mais felizes (pelo menos eu)

Poderia a resumir quase tudo a algumas frases curtas como:

- Não! 37 Segundos não é muito tempo!

- Sim, fingi a maioria das vezes para que te sentisses melhor!

- Não! O Clitóris não é uma APP do Iphone!

- Sim! eu também gosto que lá vás!

- Claro que sei, desde que casamos, porque demoras 15 minutos no chuveiro (perdão: 15 minutos e 37 segundos)

- Das 1001 posições do Kama Sutra, mesmo excluindo 999, ainda sobrem duas, podemos tentar a 2ª?

- Quando finges dormir, eu dou por ela, sabes? Eu sei que é o meio minuto mais cansativo que tens no mês, mas mesmo assim 
- Quando me dói a cabeça é porque ainda falta 1 minuto para acabar a novela

- Diz-se “Preliminares”, e não “para eliminares” e se vires bem o corpo de uma mulher, verás que estás a falhar 99% do mesmo! (envio foto em anexo) 

Percebeste a ideia?

Depois de escrever esta carta, penso que realmente estas pequenas frases não são suficientes e acho que nunca entenderás; por isso, faz-me um favor, esquece tudo aquilo que te escrevi acima e a partir de hoje, estarei fora todas as 3ªs e 5ªs à noite e vou inscrever-me num clube de leitura que acaba muito tarde. Toma bem conta dos miúdos, ok?


Beijo da tua Amada!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

QUE MAIS PODE PEDIR UMA MULHER PARA SER FELIZ ?

Adicionar legenda
Ela seguia caminho sob a chuva, sem levantar a cabeça; olhos pregados ao chão, evitando pisar as riscas do cimento no passeio. Tinham passado muitos dias e ainda não tinha conseguido ver claro. Foi como se um tornado se tivesse abatido sobre o puzzle da sua vida. Agora, ela tentava com esforço, em pouco tempo, reconstruir o que lhe tinha custado 28 anos a montar.

Até aquele dia, as peças tinham-se encaixado uma a uma sem dificuldades; tinha tido uma infância minimamente feliz, os vários graus escolares tinham-se sucedido sem grandes aventuras nem desventuras. O primeiro amor aos 10, o primeiro beijo aos 13 na mesma altura do primeiro desgosto. A primeira vez surgiu naturalmente com um namorado aos 16, sem fogo-de-artifício nem fanfarra mas também sem dramas; a faculdade, um curso acabado com uma nota média, o 1º emprego, o 2º emprego, alguns namorados mais ou menos sérios e finalmente ele.

Como se toda a sua vida tivesse sido programada para chegar a ele

Ele era tudo aquilo que ela alguma vez tinha sonhado que seria o homem da sua vida: Mais velho, mais experiente, alto, cabelo acinzentado e com um leve ar triste de quem já sofreu e já viveu muito.

Ele falava muito, alguns diriam que demais, mas ela ouvia sempre com o mesmo prazer as histórias de uma vida vivida em cheio. Ele ouvia com prazer as suas histórias de ainda menina com um passado que para ele ainda era quase presente, de tão próximo que era.

Encontravam-se muitas vezes e quase sempre faziam Amor; depois ficavam abraçados a fumar e a falar durante o tempo que ainda lhes restava e depois faziam Amor outra vez, queimando já o tempo que não tinham. As despedidas eram tão tranquilas e serenas como fogosos e quentes eram os reencontros.

Ele… bem, ela só conseguia imaginar o que ele sentia porque sobre isso falavam pouco. Sabia que ele gostava e queria estar com ela. Sabia que as manhãs, tardes ou noites de Amor lhe davam prazer porque há coisas que as mulheres sabem.
Assim se passaram meses que lhe parecem já anos, tal era a forma como tinha entrado na sua vida. Lembrava-lhe uma música de Chico Buarque que ela gostava :

“O terceiro me chegou
Como quem chega do nada:
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher”

 “ele me chama de Mulher” , tinha sido isso que tinha feito a diferença. Ele fazia-a sentir-se Mulher, sem ter de o provar, sem ter de explicar, sem ter de o dizer. Ele dizia bom dia como quem diz “Amo-te” e dizia “Adeus” como que diz também “Amo-te”.  Ela não conseguia explicar como se fazia a tradução mas era real e ela ouvia em surdina de cada vez que ele a beijava ou quando calado, encostado a ela, fumava tranquilamente, fazendo círculos de fumo.

Um dia…. Naquele dia, ele não apareceu como tinham combinado, um dia o telefone ficou mudo, um dia ela soube dum acidente . Um dia, todos os dias da sua vida, pareceram vazios.

Um dia! Bastou um dia para que todos os dias deixassem de fazer sentido, os que existiram antes dele e os que viriam depois.

As peças do puzzle já não encaixavam e como poderia a sua vida ter como destino essa felicidade tão efémera como ela acreditou depois de o conhecer?

….. Quando o despertador toucou, ela transpirava e tinha um aperto no peito como se suportasse o peso de uma vida sobre ele.

Ainda ensonada, esticou o braço e sentiu a pela quente ao seu lado , e ouviu o leve ressonar que lhe aconchegava as noites.

Felizmente tinha sido só um pesadelo, talvez provocado pelo vinho em excesso na noite anterior.

Ao seu lado ele dormia.

Era o namorado dela, colega de curso e com quem vivia há já alguns anos.

Ela sorriu.


Ele fazia-a Feliz, Era um homem romântico e acordava-a todos os dias com “um Amo-te”. deixava-lhe bilhetinhos espalhados pela casa e cozinhava para eles.

Ela pensou "Que mais pode pedir uma Mulher para ser Feliz?" ....  

HORAS INÚTEIS


Hoje, o ponteiro só dá horas,
Minutos e falsos preciosos segundos
Que só servem para preceder
Os que a seguir chegam,
Sem nada mais que fazer
Que preceder o seguinte.




quinta-feira, 22 de outubro de 2015

AFINAL A CULPA É NOSSA


Resultado de imagem para deus pai todo poderoso

Há tempos, num momento mais introspectivo apeteceu-me falar com Deus, fazer-lhe algumas perguntas …

Logo no início, hesitei na forma de tratamento … tratar Deus por “tu” parecia-me algo deslocado para alguém que conheço mal mas achei que se o tratamento fosse mais formal ele poderia pensar que eu não era alguém próximo e com isso não me dar a Devida atenção.


- Deus? Podemos conversar um pouquinho?

- (…)

- Sempre quis perguntar-te uma coisa. Eu conheço um pouco da bíblia e da Historia do teu filho, o Jesus. Sim, aquele que nasceu em Belém e não aquele que agora treina o Sporting; Nunca entendi muito bem como fazes para gerir as coisas cá em baixo há tanto tempo. Eu por exemplo nunca consigo pagar a Tvcabo a tempo e não tenho metade das tuas preocupações …

- (…)

- Quando pensas nas pessoas todas deve ser cá uma confusão na tua cabeça … não?

- (…)

- E consegues lembrar-te de todas as pessoas que passam fome, das crianças que sofrem, da miséria? Ou és como eu e de vez em quando acordas a pensar: “ Merda esqueci-me de tratar daquilo!”

- (…)

- Como eu te entendo! Aqui em baixo também não dão valor às pessoas com responsabilidades e acham que se têm de lembrar de tudo. Sempre a criticar o governo; que está tudo mal, que não há emprego, etc… Sempre insatisfeitos. Gostava de os ver no teu lugar!

- (…)

- Nunca te apeteceu mandar passear tudo e deixar as pessoas com as suas queixas a ver se alguém fazia melhor?

- (…)

- Ahh , já fizeste isso ….. Há mais de 2000 anos? A sério?
- (…)

- Então todas estas coisas que aconteceram não tem nada a ver contigo? A gente que se desenrasque, não é?
- (…)

- Pois Agora entendo !!!!


Esclarecido, olhei para a garrafa de vinho vazia e fui Deitar-me!  Afinal a culpa desta merda toda é Nossa

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Barbara 2 (homenagem a Jacques Prevert)











Lembras-te Barbara?
Chovia naquele poema,
Naquela cidade de Brest.
Era uma chuva triste
Porque te tinha perdido.
Perdi-te sem nunca te ter
Foste minha sem nunca me ver
Lembras-te?
Agora não estás.
A chuva continua a cair,
A vida segue como um riacho
Feito da chuva que caiu sobre a cidade de Brest
Mas é um riacho triste
Porque já não estás
E a chuva cai
Sobre todas as cidades do Mundo
Sobre todas as Barbaras do Mundo;
e nesses Lugares que só conheço em sonhos,
a chuva cai, como na cidade de Brest.

Madrid,  1997 

CANÇÃO DOS VELHOS AMANTES - JACQUES BREL - TRADUÇÃO LIVRE -



Claro , Por vezes gritávamos
Vinte anos de Amor é Amor louco
Mil vezes fizeste as malas
Mil vezes fiquei por pouco

Cada móvel se recorda
Nesta casa sem criança
Dos clarões da tempestade.

Nada se parecia com nada
Tinhas perdido a esperança
E eu tinha perdido a vontade

Mas Meu Amor
Meu doce, meu tenro, meu Grande Amor
Do nascer do dia até ao sol se pôr
Amo-te Ainda, sabes? Amo-te 

Conheço todos os teus encantos
Conheces todas as minhas magias
Guardaste-me todos os instantes
Eu perdia-te todos os dias

Claro que tiveste alguns amantes
Era preciso o tempo passar
Era preciso estremecer
Mas afinal meu Amor,
Foi preciso muito talento
Para ser velho sem envelhecer

Oh, Meu Amor
Meu doce, meu tenro, meu Grande Amor
Do nascer do dia até ao sol se pôr
Amo-te Ainda, sabes? Amo-te 

E mais o tempo é companhia
E menos o tempo nos satisfaz
Mas não será a pior agonia
Que Amantes viverem em Paz

Claro que agora choras mais cedo
E eu sofro sempre mais tarde
Os mistérios caem por terra
Já não queremos o imprevisto
Desconfiamos do nosso medo
Mas é sempre a terna Guerra  

Oh, Meu Amor
Meu doce, meu tenro, meu Grande Amor
Do nascer do dia até ao sol se pôr

Amo-te Ainda, sabes? Amo-te Ainda

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

JÁ NÃO TE AMO




Nos lençóis ainda húmidos e quentes ela soltava um gemido muito baixo, enquanto agarrava a ponta do lençol. Tinham feito Amor como já tinham feito tantas vezes e ela tinha fingido como já fingira muitas vezes. Fingiu o orgasmo e fingiu o Amor.

Era mais fácil fingir o primeiro que o segundo e enquanto gemia, pensava em quanto mais tempo teria que fingir o Amor? Uma casa ainda não paga na totalidade, os filhos a estudar na Universidade, um conforto que ela não tinha meios de pagar, A família que não compreenderia!

Muitos obstáculos para dizer uma simples frase: Já não te Amo!

Ela sabia que o dia em que soltasse essa frase, o seu Mundo ficaria abalado de forma irreversível e nunca mais seria o mesmo.

Quantos orgasmos fingidos valeria manter as coisas como estão? Mas mais que isso, Quando orgasmos verdadeiros perdidos poderia durar esta situação?

Contabilizar o tempo em orgasmos fingidos e perdidos era mais fácil e menos doloroso do que contar os dias e semanas em que pouco falavam porque pouco tinham para dizer. Não se detestavam nem se odiavam, simplesmente e de uma forma trágica, suportavam-se.

Os pequenos defeitos que eram tão “giros” no início, tornaram-se insuportáveis com o tempo, e finalmente passaram a ser ignorados, tornando agora a própria vida insuportável.

Ela Queria Amar, Queria Amar como talvez já tivesse amado há muitos anos, quando infelizmente ainda não sabia o que era Amar. Queria desejar e ser desejada como já não o era há muito.

Enquanto, na ponta da cama, agarrava a ponta do lençol com cada vez mais força, ele estava deitado ao seu lado, a respirar já lentamente, sem que fizesse tenção de a abraçar ou sequer de a tocar. Nesse preciso momento,  ela sentiu a força necessário e da sua boca, em vez do gemido, saiu um : "Já não te Amo !"

Meio adormecido pelo esforço do sexo consumado, e já sonolento ele virou-se para ela e perguntou: 

- Que disseste meu Amor ?
- .mmm.....Nada, disse ela, Dorme, meu Bem !


Largou o lençol, soltou um ultimo gemido e fechou os olhos ….. Fingindo Dormir !

domingo, 18 de outubro de 2015

CINZENTO


Quero cinzento
Ou talvez outra cor sem cor.
Porque cores, são encarnado, verde ou azul.
Mas cinzento ..
Nem sequer cinzento rato,
Ou prateado:
Cinzento como só o cinzento pode ser.
Cinzento porque nenhuma cor serve.
Nenhuma cor pintaria
Tão verdadeira
Tão real
E tão tristemente
O quadro que quero pintar.
Vários tons é verdade...
Que para isso agua basta,
Para que de cinza se passe a cinza menos cinza.
Cinza porque o Negro é finito,
Quando é Negro é Negro !
Quando é cinza não é nada.
Não é sim nem não,
Não é fedor nem perfume,
Não é passado nem futuro,
talvez só a sombra do presente.
Cinza é não se parecer com nada,
É não saber o que se é!
Cinza é memória
Dos passados idos que esquecemos
Dos futuros a vir que não queremos
Cinza porque eu,
Hoje!
Quero que o meu quadro
Se a tinta me chegar,
Seja o mais cinza de todos os quadros
Que alguma vez vou pintar.

A IMPORTÂNCIA DA MOSCA NO FABRICO DO PÃO-DE-LÓ

Falar sobre nada e fazer parecer o assunto importante é uma coisa que alguns chamam de …capacidade política ou é simplesmente ser-se chato !
Este exercício de escrita foi feito há muitos anos quando me foi pedido, durante o serviço militar, para dissertar sobre alguma coisa sem sentido, para avaliar a capacidade de improviso como futuro graduado. Do meu improviso nasceu alguma coisa parecida com isto que tentei recriar de memória …




.

           As moscas são insectos que normalmente se reproduzem com extrema facilidade em locais onde abundam excrementos, a sua presença era contínua em tempos remotos onde a higiene era ainda desconhecida e as ruas eram pavimentadas de cores e cheiros vários.

Belas damas retratadas por pintores da época, tomavam banho às mãos de serviçais que não abusavam na quantidade de água, porque tal prática era tida por ser pouco saudável como todo o abuso de líquidos não ingeridos.

Neste “Paraíso” de cheiros e cores que hoje consideraríamos ofensivos, viviam as Donas moscas que eram os verdadeiros senhores destes reinos.

Nestas novas cidades viviam igualmente todo o tipo de artesãos que procuravam servir as suas gentes com necessidades nova e crescentes.

Uma dessas necessidades eram as doçarias, muitas vezes trazidas ao conhecimento geral pelas ordens religiosas que entre masturbações pouco satisfatórias e orações muito pouco devotas, ocupavam os seus tempos com o prazer da Gula que substituía outros prazeres, porventura nem sempre fáceis de concretizar.

Quis o acaso que umas destas iguarias nascesse num mosteiro de uma forma muito ligada às moscas e é essa história que vou tentar contar aqui.

Reza a história que quando um Frade obeso preparava os ingredientes para confecionar um belo pão de forno, segundo uma receita que passara de mão em mão no mosteiro, deu-lhe uma repentina vontade de satisfazer umas necessidades fisiológicas prementes.
Com uma rapidez que se lhe não via no caminho para as orações matinais, o Frade foi agachar-se por trás de uma oliveira que lhe cobria somente meia nádega mas que lhe dava uma sensação de segurança e aí sem demoras, e com um sorriso na cara, despejou no terreno do mosteiro os restos de um almoço frugal, ainda condimentado com o jantar mal digerido da noite anterior.

Resultou daí um festim para a moscarada que de súbito invadiu o local e celebrou tal comezaina, chamando familiares e amigos.

Acabado o serviço, o Frade levantou-se e voltou para a cozinha. Naquele tempo e naquele local, o papel era para os escritos sagrados e se uma boa cagadela também não deixava de o ser, o papel para tal não chegava. Sobre a água….. Já falamos no início do texto.
Levando consigo um rasto de cheiro a Merda, o Frade entrou na cozinha para continuar a preparação do já referido pão de forno, arrastando consigo sem o saber, uma legião de fãs que o seguiam.
Hoje as versões sobre a quantidade de moscas variam, mas o frade jurou até à morte que eram milhares as que invadiram a sua cozinha e o obrigaram a juntar todos os ingredientes segundo uma ordem e quantidades que não eram aquelas que o pão precisava para os proteger da súbita invasão.

Sem talheres à mão, para retirar as moscas que entretanto se tinham prendido à mistura, o frade partiu ovos para usar a casca como colher improvisada. Depois de limpa de moscas a mistura para pão estava coberta de ovos e já nunca mais seria pão, por mais divina que fosse a sua preparação.

Perante o sucedido e sem tempo para mais, o frade juntou a sua energia para bater a massa que resultou do infeliz acontecimento e os ovos que entretanto partira; juntou-lhe açúcar para dar sentido aos ovos e levou ao forno rezando para que dali saísse alguma coisa comestível.

A força do seu braço direito, experimentado por muitas noite de Amor solitário, era descomunal, e tinha batido de tal forma a massa que conseguira que ela arejasse o suficiente para que, saindo do forno, o resultado fosse excelente.

Bem amarelo, que as galinhas do Mosteiro eram uma maravilha e bem leve, o Pão era doce e foi para a mesa do mosteiro no final do dia

Lot , era o nome do Frade, e o pão teve um sucesso estrondoso no mosteiro passando a chamar-se pão-de-Lot e obrigando a repetições em dias de festa.

Um dia, em confissão, e com o fardo da pecado da mentira sobre ele, o Pobre frade admitiu que a autoria do bolo resultara do acaso da merda e das moscas

O frade superior achou que esse assunto não dizia respeito somente a Deus e divulgando a confissão no mosteiro, o Pobre coitado foi tratado até ao fim dos seus dias como o inventor do pão de merda que hoje conhecemos como pão-de-ló.


Não podemos por isso relativizar a importância fulcral das moscas no fabrico do pão-de-ló !!!

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A VIDA É UM RIO
















A vida é Um rio que vai,
Vai e não vem mais
Em sentido único
Em direcção ao Mar.
Um sentido sem sentido.
de sentido Único
De quem sabe para onde vai;

E eu ..

Vejo o rio a passar
Cada gota diferente
Cada gota igual.
Se sou barragem
Ela ruiu
Se sou ponte
Ela caiu
Se sou açude
Ou a p... que o pariu
Não sou nada !
Porque o rio vai
Vai como sempre foi
Como sempre foram todos os rios.
Por mais pontes e barragens
O rio sempre flui.
O rio tem de seguir
Tem de morrer no mar
E no mar renasce
Como todos os rios
Em qualquer Mar
Em qualquer lugar.

Renasce como orvalho
Numa qualquer madrugada
Num qualquer lugar
Perto de qualquer rio
Que o leve ao Mar.

E deslizando
abraça o leito
que marca o caminho,
Indica o sentido
Que será sempre único,
Em direcção ao Mar.

E num ciclo infinito
O rio vai.
Todos os rios
Para todos os Mares.
E tudo é efémero
E tudo é Hoje
Amanhã é nada
Orvalho é Mar
O Mar é rio

E …o Rio sou eu !

DISPAM-SE !!

Quem nunca andou nu pela casa? Fazer isso é uma necessidade que nos aproxima da verdadeira nudez que é aquela em que não tiramos só a roupas mas todas as camadas exteriores que nos protegem de um Mundo por vezes cruel e que nos assusta.


Lembro-me de o ter feito uma vez com a idade de 6 anos, enquanto a minha mãe recebia a visita de umas amigas e irromper pela sala, todo nu, vestido unicamente com uma capa de Zorro e uma espada. Na altura não percebi porque o tinha feito nem qual tinha sido a necessidade de depois ir para a sala expor a minha minúscula nudez a senhoras de meia-idade.

Ainda hoje não sei porque o fiz mas acredito que já todos um dia tivemos essa vontade de nos despir perante estranhos e mostrar a nossa nudez física como uma metáfora da verdadeira Nudez que é a de sermos nós mesmos, nem que seja por uns momentos.
Fi-lo com 6 anos, felizmente, não me causando mais embaraços que não fossem a vergonha de uma palmada no rabo.

Fi-lo já adulto numa praia em Barcelona, com amigos e amigas, num banho de mar às 4 da manhã e tenho de admitir que foi uma sensação agradável que não tem nada a ver com a Nudez erótica ou sexual.

A Nudez individual encontra-se na nudez física mas também na escrita por vezes, no silêncio ou na solidão de um monólogo numa longa viagem de carro (ou isso sou só eu porque sou um pouco esquizofrénico)

A Nudez perante terceiros encontra-se no Amor e a necessidade de Amar e ser Amado resulta talvez da nossa necessidade de ficarmos nus e indefesos, voltando à nossa infância.  

Pode ser uma forma demasiado simplista de falar de Amor, mas não há nada mais reconfortante do que poder despir-nos, despojar-nos e ficar indefesos perante a Pessoa Amada.



Por isso, Dispam-se o maior numero de vezes possível porque Não se Ama sem NUDEZ. !