VISTO DAQUI.... NÃO SEI

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Conto de Natal (2)

Chovia bastante e ele caminhava junto às montras para se abrigar. Montras carregadas de coisas: Roupas, brinquedos, perfumes, joias… tudo coisas!

Coisas enfeitadas com laços brilhantes, vermelhos quase todos, e quase sempre numa cama de neve artificial de esferovite. Todos os natais era a mesma coisa, repetia-se a cena e os lojistas antecipavam cada vez mais o Natal de forma a arredondarem o final de ano e aproveitar a onda consumista que invadia as pessoas.

Ele continuava a caminhar para um lugar que poucos conheciam e que não tinha o brilho das lojas das ruas comerciais que ele atravessava naquela altura.

As ruas iam ficando cada vez menos iluminadas enquanto ele se afastava do centro; cada vez menos lojas, cada vez menos pessoas, cada vez mas cinzento e molhado. Já não ouvia as músicas que cada loja expelia durante a sua já longa caminhada.

Enquanto andava pensava em coisas, coisas que tinham preenchido os seus Natais durante anos e anos. Coisas que ele carregava para casa com a alma cheia como se estivesse a carregar Amor; mas eram só coisas.

Foi quando, numa altura difícil da vida dele, deixou de poder comprar coisas e só podia mesmo carregar Amor quando voltava para casa, que se apercebeu que estas coisas não eram nada como o Amor. Eram coisas que se desvaneciam com a aurora, que perdiam o brilho com as primeiras luzes do dia seguinte. Eram só coisas!

A chuva caia cada vez mais forte e ele já roçava as paredes dos prédios velhos, onde já não existiam lojas, nem luzes, nem Musica.

Chegado ao largo, viu as carrinhas velhas abertas e o burburinho de costume. Velhos e menos velhos esperavam já numa longa fila que também ela roçava as paredes, procurando algum abrigo para a chuva qua caía.

O cheiro a comida enchia o ar.

Já conhecia a maior parte deles e sorria enquanto caminhava para uma das carrinhas.
- Boa noite, lançou para o ar com um sorriso.

Passadas que foram quase duas horas, fez o caminho de volta. A chuva tinha parado e ele caminhava lentamente, saboreando este início de noite, enquanto começava a chegar às ruas carregadas de luzes, musica e coisas, muitas coisas.

Entrou no carro, sentou-se, acendeu um cigarro pensou em como iria para casa cheio de Amor e não de coisas. Como ir ajudar todas as semanas, os mais desfavorecidos naquelas carrinhas e servir comida lhe enchia muito mais a alma que todas as coisas que já tinha comprado noutros Natais.

Deitou o cigarro pela janela e conduziu para casa

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