Chovia bastante e ele caminhava junto às montras para se
abrigar. Montras carregadas de coisas: Roupas, brinquedos, perfumes, joias…
tudo coisas!
Coisas enfeitadas com laços brilhantes, vermelhos quase
todos, e quase sempre numa cama de neve artificial de esferovite. Todos os
natais era a mesma coisa, repetia-se a cena e os lojistas antecipavam cada vez
mais o Natal de forma a arredondarem o final de ano e aproveitar a onda
consumista que invadia as pessoas.
Ele continuava a caminhar para um lugar que poucos conheciam
e que não tinha o brilho das lojas das ruas comerciais que ele atravessava
naquela altura.
As ruas iam ficando cada vez menos iluminadas enquanto ele
se afastava do centro; cada vez menos lojas, cada vez menos pessoas, cada vez
mas cinzento e molhado. Já não ouvia as músicas que cada loja expelia durante a
sua já longa caminhada.
Enquanto andava pensava em coisas, coisas que tinham
preenchido os seus Natais durante anos e anos. Coisas que ele carregava para casa
com a alma cheia como se estivesse a carregar Amor; mas eram só coisas.
Foi quando, numa altura difícil da vida dele, deixou de
poder comprar coisas e só podia mesmo carregar Amor quando voltava para casa, que
se apercebeu que estas coisas não eram nada como o Amor. Eram coisas que se
desvaneciam com a aurora, que perdiam o brilho com as primeiras luzes do dia
seguinte. Eram só coisas!
A chuva caia cada vez mais forte e ele já roçava as paredes
dos prédios velhos, onde já não existiam lojas, nem luzes, nem Musica.
Chegado ao largo, viu as carrinhas velhas abertas e o
burburinho de costume. Velhos e menos velhos esperavam já numa longa fila que
também ela roçava as paredes, procurando algum abrigo para a chuva qua caía.
O cheiro a comida enchia o ar.
Já conhecia a maior parte deles e sorria enquanto caminhava
para uma das carrinhas.
- Boa noite, lançou para o ar com um sorriso.
Passadas que foram quase duas horas, fez o caminho de volta.
A chuva tinha parado e ele caminhava lentamente, saboreando este início de
noite, enquanto começava a chegar às ruas carregadas de luzes, musica e coisas,
muitas coisas.
Entrou no carro, sentou-se, acendeu um cigarro pensou em
como iria para casa cheio de Amor e não de coisas. Como ir ajudar todas as
semanas, os mais desfavorecidos naquelas carrinhas e servir comida lhe enchia
muito mais a alma que todas as coisas que já tinha comprado noutros Natais.
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