Quando abro a porta de casa sinto
um arrepio a percorrer-me o corpo. Sei que bebi demais e sei também que não
bebi o suficiente para que esta noite deixasse de existir.
É ao voltar a casa
que revejo a noite tal como ela foi, sem o brilho que lhe quis dar, para me
sentir melhor.
Já é quase dia, sinto fome, mas
obrigo-me a não pensar nisso. Só quero deitar-me, fechar os olhos e esperar que
o sono venha rapidamente.
As noites como esta repetem-se.
Noites em que finjo que o brilho da noite é de ouro e não apenas dourado. Noites
em que no anonimato, e no meio de rostos iguais ao meu, procuro aquilo que sei
que não vou encontrar. Procuro aquilo que todos procuram, mesmo se querem
acreditar que procuram outra coisa.
A ilusão de cada um faz com que
tudo pareça diferente e no final de cada noite volto mais vazia do que fui e
consciente que a ilusão é efémera e não resiste ao raiar do dia.
Hoje voltei sozinha, mas noutros
dias, noutras noites, voltei ainda mais sozinha com alguém que se deitou na
minha cama sem a aquecer, sem deixar marcas.
Amanhã, quando acordar, o vazio
será tão vazio como era ontem e como era na semana passada em que voltei de
madrugada, sozinha ou mesmo acompanhada.
Será que o Mundo não entende que
o quero! O que quero são olhos que me olhem como realmente sou, são mãos que me dêem a mão e um corpo onde me possa apoiar quando precisar ou simplesmente quando
me apetecer.
Claro que sorrio quando me desejam,
claro que tremo quando me tocam, claro que grito quando me amam, mas eu quero
uma maiúscula nesse Amor, quero uma maiúscula com fonte tamanho 24 e não esse
amor que morre quando a cama fica fria ainda antes do nascer do dia.
Quero alguém que entenda que o
meu “não” pode ser um “sim”, ou até mesmo ser um ”não”. Quero alguém que abrace
sem eu ter frio, que me beije só porque sim e que me deixe vazia quando parte
como se parte de mim também tivesse ido.
Ninguém me disse que era tão difícil
encontra-lo; achei que um dia viria no seu cavalo branco bater-me à porta e me
levaria como num conto de fadas, onde depois do primeiro beijo, seriamos
felizes para sempre.
A vida não é justa, nunca foi! Mas
não vou deixar de procurar no meio daqueles rostos iluminados pelas luzes de
brilho dourado, aquele que é realmente de ouro e sei que algures, num parque de
estacionamento, estará um cavalo branco.
Nesse dia serei beijada como se de
Amor se tratasse e nesse dia serei feliz para o resto da vida … ou só até virar
a página