VISTO DAQUI.... NÃO SEI

VISTO DAQUI.... NÃO SEI

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Volta da Noite


Quando abro a porta de casa sinto um arrepio a percorrer-me o corpo. Sei que bebi demais e sei também que não bebi o suficiente para que esta noite deixasse de existir. 

É ao voltar a casa que revejo a noite tal como ela foi, sem o brilho que lhe quis dar, para me sentir melhor.

Já é quase dia, sinto fome, mas obrigo-me a não pensar nisso. Só quero deitar-me, fechar os olhos e esperar que o sono venha rapidamente.

As noites como esta repetem-se. Noites em que finjo que o brilho da noite é de ouro e não apenas dourado. Noites em que no anonimato, e no meio de rostos iguais ao meu, procuro aquilo que sei que não vou encontrar. Procuro aquilo que todos procuram, mesmo se querem acreditar que procuram outra coisa.

A ilusão de cada um faz com que tudo pareça diferente e no final de cada noite volto mais vazia do que fui e consciente que a ilusão é efémera e não resiste ao raiar do dia.
Hoje voltei sozinha, mas noutros dias, noutras noites, voltei ainda mais sozinha com alguém que se deitou na minha cama sem a aquecer, sem deixar marcas.

Amanhã, quando acordar, o vazio será tão vazio como era ontem e como era na semana passada em que voltei de madrugada, sozinha ou mesmo acompanhada.

Será que o Mundo não entende que o quero! O que quero são olhos que me olhem como realmente sou, são mãos que me dêem a mão e um corpo onde me possa apoiar quando precisar ou simplesmente quando me apetecer.

Claro que sorrio quando me desejam, claro que tremo quando me tocam, claro que grito quando me amam, mas eu quero uma maiúscula nesse Amor, quero uma maiúscula com fonte tamanho 24 e não esse amor que morre quando a cama fica fria ainda antes do nascer do dia.

Quero alguém que entenda que o meu “não” pode ser um “sim”, ou até mesmo ser um ”não”. Quero alguém que abrace sem eu ter frio, que me beije só porque sim e que me deixe vazia quando parte como se parte de mim também tivesse ido.

Ninguém me disse que era tão difícil encontra-lo; achei que um dia viria no seu cavalo branco bater-me à porta e me levaria como num conto de fadas, onde depois do primeiro beijo, seriamos felizes para sempre.

A vida não é justa, nunca foi! Mas não vou deixar de procurar no meio daqueles rostos iluminados pelas luzes de brilho dourado, aquele que é realmente de ouro e sei que algures, num parque de estacionamento, estará um cavalo branco.

Nesse dia serei beijada como se de Amor se tratasse e nesse dia serei feliz para o resto da vida … ou só até virar a página

sábado, 16 de janeiro de 2016

Historia de café















Como quase todos os dias ele entra no café cerca das oito e meia da manhã depois de estacionar o mais perto possível da porta.

- Bom dia

- Bom dia

- Queria um café por favor

(…)

- Curto, está bem?

- OK!

- Aqui está

- Obrigado

Ele toma o café lentamente

(…)

- Quanto é se faz favor?

- Setenta cêntimos

Todos os dias pergunta o preço de forma mecânica sabendo perfeitamente o preço do café naquele sitio.

Retira duas moedas do bolso e pousa no balcão.

- Até amanhã

(…)

Ninguém responde

Ele sai do café lentamente; já cá fora acende um cigarro e depois de dar uma longa passa, caminha para o carro.
(...) 


Parece uma historia sem história mas se fosse chá em vez de café, seria completamente diferente 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Lembras-te ?

Lembras-te daquele dia em que apertei o cinto do carro pela 1ª vez?

Lembras-te das noites mal dormidas porque não deixavas?

Lembras-te daquele dia em que abriste a cabeça e fomos ao hospital?

Lembras-te do dia em que me desafiaste com o olhar?

Lembras-te do dia em que fizemos 300 kms sem falar?

Lembras-te de não te lembrar de me contar a verdade?

Lembras-te de quando começaste a namorar?

Lembras-te de quando te apanhei a fumar?

Lembras-te?

Lembras-te quando te vi a 1ª vez e quase cabias na minha mão?

Lembras-te quando quase te afogavas no mar?

Lembras quando me fizeste chorar?

Lembras-te quando me fizeste gritar?

Lembras-te quando te esqueceste de me avisar?

Lembras-te?


Algumas desejarias não lembrar, outras gostavas de não ter esquecido eu estou por aqui como guardião das lembranças de um passado ainda presente, em cada lágrima, em cada abraço, em cada queda, em cada dia 

Estarei sempre aqui para te lembrar ….Que estarei sempre aqui!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Chegou o dia em que partiu

Chegou o dia em que partiu …

Era um dia como outro qualquer. Naquele dia a máquina dele falhou como falham os motores dos carros e sem aviso prévio nem notificações, ele já não estava vivo.
Não teve tempo de fazer um balanço nem de se despedir; talvez fosse melhor assim, talvez ….

A sua vida não ficará marcada na história e talvez nem sequer numa lápide. Saiu como entrou, sem alarido, sem choro e sem lágrimas.

Irá ser lembrado como alguém que não tem por que ser lembrado e será esquecido rapidamente por aqueles que já hoje mal se lembram da sua existência.

Talvez tenha vivido demais, porque quem morre jovem é normalmente relembrado com tristeza e com saudades. Ele já tinha visto partir todos aqueles que podiam sentir saudades e aqueles que se lembram dele já não têm a certeza daquilo que ainda se conseguem lembrar.

Os últimos anos foram passados em viagens curtas da cama para o sofá e por vezes até à janela para ver as estações a passarem. O Ritmo só era quebrado, raramente, para ir a um funeral de alguém de quem ainda se lembrava vagamente, alguém mais velho ou alguém mais frágil.

Tinha enterrado há muito tempo aquela que fora o seu Amor, num dia de chuva, em que outros, que ainda se lembravam deles, o acompanharam em silêncio. E desde esse dia, este silêncio passou a ser quebrado apenas pelo tic-tac do relógio que, na sala, lhe indicava que o tempo dele se estava a esgotar-se e pelo arrastar dos pés que já mal aguentavam aquele corpo cansado.

Os dias sucediam-se quase sempre iguais, quebrando-se apenas a monotonia, em raras visitas daquela que outrora fora a sua família mas que também já o tinha esquecido, como todos os outros. Ele ainda gostaria das visitas, se as visitas não fossem só visitas. Eram uma obrigação que eles cumpriam como um ritual e que a ele, já nada dizia, porque na maior parte dos dias, esquecia-se que tinha família.

Se alguém fizesse o balanço da vida dele, seguramente que encontraria muitas razões para que a mesma fosse lembrada: muita luta, muitos sacrifícios para que os seus filhos tivessem o que ele não teve, Muito Amor, feito em silêncio numa casa demasiado pequena, muitas lágrimas escondidas porque naquele tempo um homem não chorava; a felicidade de ver os filhos a crescer, os netos a nascer, uma casa cheia de gente que hoje já não sabe sequer da sua existência.

A sua vida, Foi também, um trabalho que fez com perícia e amor até que o seu corpo não lho permitisse.

Mas para isso, para que a sua vida fosse mais que uma lápide ou vaga recordação, era preciso que alguém se lembrasse, porque ele agora, já tinha partido. Com ele partiu uma vida feita de tudo aquilo que as vidas costumam ser feitas e no final tudo ficaria reduzido a uma caminhada em silêncio até ao cemitério mais próximo por aqueles que o fariam por obrigação ou porque não tinham coisa melhor para fazer.


Sem holofotes, sem choros, em silêncio e sem lágrimas ......Como fora a vida dele.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Amo-te assim assim

Um dia fui comprar um livro e disseram-me: “está esgotadíssimo” !!! Eu perguntei ao Vendedor qual a diferença entre esgotado e esgotadíssimo?

Será que se estivesse só esgotado podia ter esperança de encontrar um exemplar perdido?

Será que esgotadíssimo quer dizer esgotado há muito tempo ou (caso concreto, segundo explicação do vendedor) que para além de estar esgotado, muita gente tem vindo à procura?

Saindo da FNAC, conversei com a minha filha que estava comigo, sobre a diferença entre “esgotado” e “esgotadíssimo” e sobre todas estas formas de linguagem em que por vezes queremos dar realce a alguma situação e como estas formas passam a ser banais e perdem a força que poderiam ter se fossem usadas com moderação.

Um pouco como quando tudo é “bué de top” e não somente “top” na linguagem adolescente.

A propósito disso hoje vieram-me à cabeça coisas que costumamos dizer como por exemplo : “Amo-te Muito!”

… É possível Amar pouco?

A Palavra Amor é tão abrangente que não se lhe pode adicionar nada; ou se Ama ou não se Ama!

Dizer Amo-te Muito é como dizer que alguém está muito morto ou muito vivo. Podemos gostar pouco ou muito de alguma coisa ou de alguém mas não podemos Amar pouco, porque Amar não é só um sentimento, é um Estado. Amar só pode ser incondicional como a vida e a Morte.

O Amor pode acabar, obviamente, pode ser sofrido, pode ser duro, pode ser até curto,  mas não pode nunca ser Pouco!

Como todos os adjectivos e advérbios que usamos vezes demais sem parcimónia e que perdem o sentido, a palavra “Amor” tem de ser usada com moderação. A palavra “Amor” devia vir com indicações, como nas bulas dos medicamentos sobre as doses e modos de uso para que não passe a ser banal e deixe de ter sentido.


Não Amem muito! Amem muitas vezes !  

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Enquanto fumava

Ele passava, pensativo, os dedos sobre o seu corpo despido enquanto fumava um cigarro. 
Parou com a ponta do dedo da mão direita sobre a sua boca, forçou um pouco para que ela a abrisse ligeiramente, deixando-lhe o dedo húmido; 
seguiu os contornos dos lábios durante alguns segundos e sem aviso desceu, passando pelo pescoço e seguindo a rota que passava pelo meio dos seios, deixando um rasto húmido ….


E


Agora que vos chamei a atenção e depois de uma breve paragem “visto daqui não sei” volta daqui a pouco com mais textos esperando que continuem a gostar, comentar e partilhar.