7 da manha.
O despertador diz-lhe que se tem
de levantar mas o seu corpo diz que não. Mais uns minutinhos pensa … só mais
uns minutinhos.
Na cabeça confusa entre a noite e
o dia, as boas sensações da noite sonhada ainda se sobrepõem à realidade do dia
que começa; e é neste limbo entre a realidade e o sonho que passa os minutos
que separam o primeiro toque do despertador do que agora se faz ouvir e que
obriga o seu corpo a reagir, ainda que devagar.
Com uma mão levanta a roupa da
cama e com a outra desliga aquele barulho ensurdecedor.
A pouco e pouco o sonho vai
desaparecendo da sua mente, apagando-se como se apaga uma música, baixando
lentamente o volume, até não ficar sequer a mínima lembrança do que lhe
provocou aquela sensação de paz e de bem-estar.
Está frio.
A água quente do chuveiro
acorda-a definitivamente enquanto o café está já a perfumar o pequeno
apartamento.
Depois de vestir umas calças e
uma camisola leve de verão, vai à cozinha, descalça, seguindo o aroma do café
que começou a ser feito à hora marcada.
Acende um cigarro e com uma chávena
na mão, vai até à janela ver o dia a começar finalmente a ser dia. No prédio em
frente ao dela, as luzes já acesas desenham uma espécie de palavras cruzadas sem
soluções. Sorri a pensar em palavras que coubessem naquelas luzes acesas.
O corpo vai arrefecendo depois do
banho quente e o frio volta enquanto o café quente se acaba na chávena grande, que
segura com as duas mãos.
É neste preciso momento que lhe
vem tudo outra vez, como um flash, o sonho que lhe encheu a noite e do qual
acordou em paz.
Relembrou as pessoas, os locais e
sobretudo lembrou-se dele. Ele estava lá, com aquele sorriso que tantas vezes
lhe encheu a alma, com aqueles olhos cor de amêndoa que pareciam conter um
universo dentro deles.
Ela lembra-se do sorriso e do
riso; ela lembra-se do cheiro; ela lembra-se dele como ela era antes de tudo
acontecer. Era sempre assim no sonho, tinha sido assim muito tempo, na Vida.
Hoje, ele já não está e visita-a
por vezes nos seus sonhos e no entanto, cada vez menos quando está acordada. O
tempo vai apagando a dor e a falta, mas não apaga a memória nem as lembranças. As
visitas são mais raras porque a vida continua e a dor deu lugar à saudade. A
dor é contínua mas a saudade vai e vem como uma brisa fria numa noite amena. Vai
e vem, vem cada vez menos e vai cada vez mais.
Hoje faria anos, hoje seria um
dia feliz, hoje seria outro dia diferente do dia que vai ser hoje porque hoje, ele
não está.
Volta para a cama e tapa-se com
os cobertores; chora, chora como já não chorava há algum tempo. Chora em silêncio.
Não chora de dor porque a dor já se foi, chora porque sim, porque lhe apetece
chorar e tenta voltar a sentir debaixo dos cobertores, o que sentia há pouco
quando de lá saiu. Mas a sensação não volta, nem com o calor dos lençóis, nem
com as lágrimas.
Ele voltará quando lhe apetecer ......como sempre voltou ..
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