VISTO DAQUI.... NÃO SEI

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segunda-feira, 6 de março de 2017

Sonho

7 da manha.

O despertador diz-lhe que se tem de levantar mas o seu corpo diz que não. Mais uns minutinhos pensa … só mais uns minutinhos.

Na cabeça confusa entre a noite e o dia, as boas sensações da noite sonhada ainda se sobrepõem à realidade do dia que começa; e é neste limbo entre a realidade e o sonho que passa os minutos que separam o primeiro toque do despertador do que agora se faz ouvir e que obriga o seu corpo a reagir, ainda que devagar.

Com uma mão levanta a roupa da cama e com a outra desliga aquele barulho ensurdecedor.

A pouco e pouco o sonho vai desaparecendo da sua mente, apagando-se como se apaga uma música, baixando lentamente o volume, até não ficar sequer a mínima lembrança do que lhe provocou aquela sensação de paz e de bem-estar.

Está frio.

A água quente do chuveiro acorda-a definitivamente enquanto o café está já a perfumar o pequeno apartamento.

Depois de vestir umas calças e uma camisola leve de verão, vai à cozinha, descalça, seguindo o aroma do café que começou a ser feito à hora marcada.

Acende um cigarro e com uma chávena na mão, vai até à janela ver o dia a começar finalmente a ser dia. No prédio em frente ao dela, as luzes já acesas desenham uma espécie de palavras cruzadas sem soluções. Sorri a pensar em palavras que coubessem naquelas luzes acesas.

O corpo vai arrefecendo depois do banho quente e o frio volta enquanto o café quente se acaba na chávena grande, que segura com as duas mãos.

É neste preciso momento que lhe vem tudo outra vez, como um flash, o sonho que lhe encheu a noite e do qual acordou em paz.

Relembrou as pessoas, os locais e sobretudo lembrou-se dele. Ele estava lá, com aquele sorriso que tantas vezes lhe encheu a alma, com aqueles olhos cor de amêndoa que pareciam conter um universo dentro deles.

Ela lembra-se do sorriso e do riso; ela lembra-se do cheiro; ela lembra-se dele como ela era antes de tudo acontecer. Era sempre assim no sonho, tinha sido assim muito tempo, na Vida.

Hoje, ele já não está e visita-a por vezes nos seus sonhos e no entanto, cada vez menos quando está acordada. O tempo vai apagando a dor e a falta, mas não apaga a memória nem as lembranças. As visitas são mais raras porque a vida continua e a dor deu lugar à saudade. A dor é contínua mas a saudade vai e vem como uma brisa fria numa noite amena. Vai e vem, vem cada vez menos e vai cada vez mais.

Hoje faria anos, hoje seria um dia feliz, hoje seria outro dia diferente do dia que vai ser hoje porque hoje, ele não está.

Volta para a cama e tapa-se com os cobertores; chora, chora como já não chorava há algum tempo. Chora em silêncio. Não chora de dor porque a dor já se foi, chora porque sim, porque lhe apetece chorar e tenta voltar a sentir debaixo dos cobertores, o que sentia há pouco quando de lá saiu. Mas a sensação não volta, nem com o calor dos lençóis, nem com as lágrimas.


Ele voltará quando lhe apetecer ......como sempre voltou ..

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