Gostaria de um dia olhar para trás e perceber que deixei
alguma coisa que perdure? Será que deixar a nossa marca é assim tão importante?
Será que a deixamos de todo?
Podemos deixar filhos, deixar livros, deixar musica, deixar
um legado qualquer que fixe o nosso nome para mais algum tempo depois de irmos,
mas seja o que for que deixamos para trás, não somo nós.
Um filho é uma pessoa que pusemos no Mundo e que ajudamos a adaptar
a algo que ele não pediu, a vida. Eles ficarão depois de nós e mais tarde farão
possivelmente o mesmo aos filhos deles e seguirão ou não os nossos conselhos e
ensinamentos, fazendo as suas próprias escolhas.
Nunca deixaram de ser eles, desde
o momento em que nasceram, nunca serão “nós” por mais que tentemos ou queiramos.
Deixaremos o nosso nome, se for caso disso, no final do nome deles, mas não
ficaremos através dele.
Não são um legado que deixamos, são pessoas que
herdaram de nós aquilo que fomos capazes de dar, bom ou mau e que vivem a sua
vida individual, como vivemos a nossa; com escolhas, com más decisões e mais
boas decisões se tiverem sorte.
Um livro escrito deixa um nome na capa e deixa no interior
um pedaço de quem somos ou talvez não.
Existe talento que não depende da Alma e
livros que não são mais que o resultado de um longo processo criativo aprendido
e amadurecido que põe no papel aquilo que as pessoas querem ler. Queremos
acreditar que está lá o autor mas não é assim e o que fica é só um nome numa ou
em muitas capas. Claro que os mais puristas dirão que cada livro é um pedaço do
seu autor, mas um livro é menos que isso. Um livro é um pedaço de um pedaço da vivência
do seu autor e nunca será mais que isso.
Falemos de Musica, de Cinema, de cidades inteiras, de países
ou até de guerras … nada nos deixa ficar para trás, nada nos impede de irmos e
de simplesmente deixarmos o nosso nome como marca máxima no Mundo onde já não
estamos. Crer em mais que isso é iludir-nos e fantasiar sobre imortalidade.
Por isso não faço questão que o meu nome perdure, simplesmente porque eu
não vou perdurar; gostava que fosse lembrado, gostava que as pessoas soubessem
pelo menos durante algum tempo mais, quem eu era e gostava que aqueles que Amo
ficassem com algo de mim que seja positivo e os ajude a construir o seu “Eu”.
Mais do que isso é pedir algo parecido com a Imortalidade e a Imortalidade é muito
aborrecida.
Para aqueles que se perguntam: qual é o sentido da vida? Porque
estamos cá? Respondo que o sentido da vida é a própria morte. A vida só tem sentido se tiver um fim, senão não tem
razão de ser. Se tivéssemos a eternidade para acertar e para fazer o correcto, deixaríamos
sempre para depois porque teríamos tempo, demasiado tempo para errar.
Sem Morte, a Vida seria a própria Morte.
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