VISTO DAQUI.... NÃO SEI

VISTO DAQUI.... NÃO SEI

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Em Luanda



Desde que cheguei a Angola e cada dia que passa tenho aprendido algumas coisas sobre o que é estar fora do seu País, longe das pessoas que se ama.
Vejo-me a lacrimejar a ver series cómicas porque as pessoas mostram emoções por aqueles que lhes estão próximos, vejo-me a sentir-me só quando sou eu que fujo muitas vezes a estar com pessoas.

É incrível como nos adaptamos a esta vida, buscando substitutos às coisas que temos normalmente e fugas para aquilo que não queremos por serem demasiado próximas do que desejaríamos ter nessa altura.

A maioria das pessoas por aqui, adapta-se de uma forma ou de outra; umas buscam companhia para enganar a ausência ou simplesmente porque querem companhia; outros procuram uma “segunda” juventude ou “segunda” vida porque estão longe e não conseguem estar em “hold” muito tempo.

Vejo todos os dias pessoas a estarem juntas, sejam amigos ou amantes que se estivessem em Portugal nem sequer perderiam tempo a se conhecer; aqui pela lei de oferta e da procura e pela lei da sobrevivência, as pessoas juntam-se e são felizes por momentos, fingindo sentimentos, fingindo alegria, fingindo gostar simplesmente.
Outros, em muito menor número estão genuinamente a viver.
Eu observo! Não consigo fingir sentimentos, nunca consegui e talvez por isso a minha lista de amigos seja muitíssimo pequena.

Observo as pessoas a fingir, observo a pessoas a viver e fico de fora porque não sou um poeta como dizia fernando Pessoa. Não consigo fingir.
Gosto genuinamente de algumas pessoas que fui conhecendo; a algumas poderei chamar “amigos” mesmo sabendo que ser amigo é muito mais que gostar, mas como os outros iludo-me de forma consciente e neste momento e neste espaço ser amigo tem menos requisitos que na vida real, porque baixamos barreiras e expectativas.

Toda a gente busca proximidade pelo afastamento daqueles que são realmente próximos; não se consegue ser minimamente feliz sem essa proximidade, seja carnal, seja simplesmente de sentimentos. Por mais “duro” que sejamos, por mais independente que achemos ser, como dizia o caetano Veloso : “ um carinho sempre cai bem”.

Sinto a falta dos meus filhos, mesmo falando com eles todos os dias. Sinto a falta da minha casa que só é minha há 1 ano. Sinto a falta da minha rotina. Sinto a falta de não sentir a falta de nada.

Por outro lado, estas experiencias são muito enriquecedoras e são alimento para a Alma e são sobretudo “viver”. Viver coisas novas , viver emoções novas e sentir.
Todos os dias, acordo num apartamento que podia ser o meu em Portugal, com as comodidades todas. E todos os dias, quando chego à rua me surpreendo com o barulho e com os cheiros desta cidade. Parece que entro numa nova dimensão e que todos os dias são o 1º dia. Todos os dias me surpreendo quando o Manucho vem ter comigo a anda ao meu lado até ao carro. Todos os dias me surpreendo quando chego ao carro e vejo o limpa para-brisas levantado para mostrar que foi limpo. Todos os dias me surpreendo quando vejo o meu carro a brilhar…

Todos os dias me surpreendo quando o Manucho me conta as desgraças da vida dele e porque “precisa” de dinheiro ou de sapatos.
“ O fungi acabou, meu Camba, só tenho 2 pacotes de massa. Fim de semana foi mau”
“Foi mau porquê  Manucho ?”   pergunto
“ Foi mau porque acabou o fungi , meu camba !”
Ingenuidade minha!

Mesmo sabendo que a maioria deles inventa coisas todos os dias para nos “sacar” dinheiro, toca-me porque mesmo os problemas fingidos são coisa pouca comparados com os problemas reais deles do dia-a-dia.

Finjo acreditar nas desgraças para justificar o dinheiro que lhes dou, finjo não me preocupar com os seus problemas reais quando me mostram uma receita de farmácia por aviar, quando sei que aquela receita é provavelmente falsa e antiga.

Ai, sim consigo fingir.

Só não consigo fingir as saudades que sinto daqueles que Amo e todos os dias, no final do dia, quando entro neste apartamento vazio, a cheirar a limpo, sinto a falta deles; sinto que não estou em casa.

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