Por vezes são coisas banais que nos dão a real importância
de coisas bem menos banais.
Há dias via uma série na televisão; uma série banal e
nela, uma cena como tantas outras que vemos todos os dias.
Nessa cena vi uma coisa tão simples como 2 pais olharem para
um filho e trocarem um olhar cúmplice, misturado com orgulho de quem diz: “
afinal estamos a fazer um bom trabalho”
Todos os dias olho para os meus filhos e tenho dúvidas.
Duvidas se estou a agir bem, duvidas se estou a ser correto, duvidas se estou a
ser um bom pai.
Nesses momentos falta-me o outro lado, falta-me o outro
prato da balança. Falta-me a pessoa que me pode corrigir, que me pode apoiar
numa decisão ou demover-me da mesma. Falta a pessoa onde me posso apoiar e
sentir que estou a fazer a coisa certa. Falta a pessoa que partilha o mesmo
sentimento e o mesmo Amor e que possa ver as coisas da perspetiva de quem Sente
o mesmo que eu sinto. Falta a pessoa que me possa dizer: Não! Não é por aí !
Estas faltas estavam identificadas e sabia desde aquele dia,
que era algo com que ia ter de viver e ultrapassar. A falta de um equilíbrio,
de um pêndulo. Sabia que as minhas dúvidas seriam cada vez maiores e cada vez
mais complicadas. Sabia que seria uma luta comigo mesmo todos os dias e que
seria errando que iria aprender.
Tudo é tão mais fácil quando partilhado, tudo é tão mais
claro quando falado…
Há tempos escrevi sobre a diferença (para mim, obviamente) entre
ver uma obra de arte, ler um livro ou ver um bom filme e poder partilhar o que
sentimos ou não o fazer de todo e viver essas emoções unicamente de forma interior.
Filhos não são obras de arte mas emoções são emoções e a
partilha é igualmente necessária.
O que eu nunca pensei, era na falta que me faria, voltando à
tal cena banal, esse olhar cúmplice e orgulhoso que trocaria depois de olhar
para os meus filhos. Esse olhar que diz “ Afinal estamos a fazer um bom
trabalho”. Esse olhar,nunca mais o trocarei com ninguém e essa partilha, que só
poderia ser feita com uma pessoa, ficará para sempre impossível de se realizar.
Poderíamos nem falar, poderíamos estar afastados milhões de quilómetros em distância
ou sentimentos, mas esse olhar seria só nosso e saberíamos o que quereria
dizer.
Quando vejo pais que poderiam trocar esse olhar mas que por
coisas banais, tão ou mais banais como a séria que nos trouxe aqui, não o fazem
….
É que quando sentimos 4 olhos nas nossas costas, sejamos
crianças ou já adultos, eles têm o poder de nos fazer mais fortes, endireitam
as nossas costas e levantam as nossas cabeças.
Esses 4 olhos que depois de
olhar para nós, se viram dois a dois e dizem “ Afinal estamos a fazer um bom
trabalho!”
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