VISTO DAQUI.... NÃO SEI

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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O roubo dos Barulhos ( livro infantil)


depois de 365 dias, Um livro infantil com 7 anos, escrito para ler na escola da minha filha, o dia Nacional da leitura.
Pode ser lido online no link abaixo.



quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Afinal estamos a fazer um bom trabalho

Por vezes são coisas banais que nos dão a real importância de coisas bem menos banais.

Há dias via uma série na televisão; uma série banal e nela, uma cena como tantas outras que vemos todos os dias.

Nessa cena vi uma coisa tão simples como 2 pais olharem para um filho e trocarem um olhar cúmplice, misturado com orgulho de quem diz: “ afinal estamos a fazer um bom trabalho”

Todos os dias olho para os meus filhos e tenho dúvidas. Duvidas se estou a agir bem, duvidas se estou a ser correto, duvidas se estou a ser um bom pai.

Nesses momentos falta-me o outro lado, falta-me o outro prato da balança. Falta-me a pessoa que me pode corrigir, que me pode apoiar numa decisão ou demover-me da mesma. Falta a pessoa onde me posso apoiar e sentir que estou a fazer a coisa certa. Falta a pessoa que partilha o mesmo sentimento e o mesmo Amor e que possa ver as coisas da perspetiva de quem Sente o mesmo que eu sinto. Falta a pessoa que me possa dizer: Não! Não é por aí !

Estas faltas estavam identificadas e sabia desde aquele dia, que era algo com que ia ter de viver e ultrapassar. A falta de um equilíbrio, de um pêndulo. Sabia que as minhas dúvidas seriam cada vez maiores e cada vez mais complicadas. Sabia que seria uma luta comigo mesmo todos os dias e que seria errando que iria aprender.

Tudo é tão mais fácil quando partilhado, tudo é tão mais claro quando falado…

Há tempos escrevi sobre a diferença (para mim, obviamente) entre ver uma obra de arte, ler um livro ou ver um bom filme e poder partilhar o que sentimos ou não o fazer de todo e viver essas emoções unicamente de forma interior.

Filhos não são obras de arte mas emoções são emoções e a partilha é igualmente necessária.

O que eu nunca pensei, era na falta que me faria, voltando à tal cena banal, esse olhar cúmplice e orgulhoso que trocaria depois de olhar para os meus filhos. Esse olhar que diz “ Afinal estamos a fazer um bom trabalho”. Esse olhar,nunca mais o trocarei com ninguém e essa partilha, que só poderia ser feita com uma pessoa, ficará para sempre impossível de se realizar.
Poderíamos nem falar, poderíamos estar afastados milhões de quilómetros em distância ou sentimentos, mas esse olhar seria só nosso e saberíamos o que quereria dizer.

Quando vejo pais que poderiam trocar esse olhar mas que por coisas banais, tão ou mais banais como a séria que nos trouxe aqui, não o fazem ….


É que quando sentimos 4 olhos nas nossas costas, sejamos crianças ou já adultos, eles têm o poder de nos fazer mais fortes, endireitam as nossas costas e levantam as nossas cabeças. 

Esses 4 olhos que depois de olhar para nós, se viram dois a dois e dizem “ Afinal estamos a fazer um bom trabalho!” 

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

a Força ou a Fé

Muitas vezes, muitos de nós, em certos momentos das nossas vidas, fomos buscar forças onde parecia impossível, onde achávamos que não existiam
Onde está o limite da nossa força? Acho que só colocados face a obstáculos que julgaríamos intransponíveis chegamos a perceber o quanto podemos ser forte, o quanto podemos ser mais fortes que aquilo que pensávamos.

Há coisas na vida que funcionam como catalisadores desta força e de todas destaca-se sem sombra de dúvidas, a família e em particular os filhos.
São eles que , mais que tudo o resto, nos conseguem extrair essa força e fazer de nós algo mais do que aquilo que somos, sem que tenhamos que procurar muito dentro de nós. Ela está lá, vem no pacote quando eles nascem e sem darmos por ela, aloja-se num canto obscuro do nosso ser para ser usada quando dela necessitamos.

Esta força está dentro de nós como uma reserva escondida e guardada para os momentos difíceis da vida deles em que como pais temos de nos superar e ser algo mais do que simples seres humanos.

Alguns, possivelmente poucos, conseguiram forma de usar esta força no seu dia-a-dia e extraí-la de coisas como a Fé, o Amor ou mesmo o Ódio; conseguiram domá-la e estes são seres extraordinários, com uma capacidade de superação incrível que se cruzam na nossa vida de longe a longe e que admiramos.

Quando estamos doentes, nós que somos comuns mortais, focamo-nos na cura em função de nós, mas também muito em função dos outros : os filhos, os pais, os irmãos ou aqueles que Amamos. Essa força funciona e faz de nós quase super-homens ou super-mulheres; é com essa força que voltamos do lado escuro de onde outros não quiseram ou não conseguiram sair.

No regresso dessa viagem, esgotados, voltamos a ser humanos mas sabemos que algures, essa força continua presente para outra jornada, para outra vitoria.

Para uns esta força chama-se fé, para outros simplesmente força; mas isso,  no fim de contas, não fará diferença, porque ela não vem quando se chama pelo nome mas quando precisamos dela.




terça-feira, 4 de outubro de 2016

Em Luanda



Desde que cheguei a Angola e cada dia que passa tenho aprendido algumas coisas sobre o que é estar fora do seu País, longe das pessoas que se ama.
Vejo-me a lacrimejar a ver series cómicas porque as pessoas mostram emoções por aqueles que lhes estão próximos, vejo-me a sentir-me só quando sou eu que fujo muitas vezes a estar com pessoas.

É incrível como nos adaptamos a esta vida, buscando substitutos às coisas que temos normalmente e fugas para aquilo que não queremos por serem demasiado próximas do que desejaríamos ter nessa altura.

A maioria das pessoas por aqui, adapta-se de uma forma ou de outra; umas buscam companhia para enganar a ausência ou simplesmente porque querem companhia; outros procuram uma “segunda” juventude ou “segunda” vida porque estão longe e não conseguem estar em “hold” muito tempo.

Vejo todos os dias pessoas a estarem juntas, sejam amigos ou amantes que se estivessem em Portugal nem sequer perderiam tempo a se conhecer; aqui pela lei de oferta e da procura e pela lei da sobrevivência, as pessoas juntam-se e são felizes por momentos, fingindo sentimentos, fingindo alegria, fingindo gostar simplesmente.
Outros, em muito menor número estão genuinamente a viver.
Eu observo! Não consigo fingir sentimentos, nunca consegui e talvez por isso a minha lista de amigos seja muitíssimo pequena.

Observo as pessoas a fingir, observo a pessoas a viver e fico de fora porque não sou um poeta como dizia fernando Pessoa. Não consigo fingir.
Gosto genuinamente de algumas pessoas que fui conhecendo; a algumas poderei chamar “amigos” mesmo sabendo que ser amigo é muito mais que gostar, mas como os outros iludo-me de forma consciente e neste momento e neste espaço ser amigo tem menos requisitos que na vida real, porque baixamos barreiras e expectativas.

Toda a gente busca proximidade pelo afastamento daqueles que são realmente próximos; não se consegue ser minimamente feliz sem essa proximidade, seja carnal, seja simplesmente de sentimentos. Por mais “duro” que sejamos, por mais independente que achemos ser, como dizia o caetano Veloso : “ um carinho sempre cai bem”.

Sinto a falta dos meus filhos, mesmo falando com eles todos os dias. Sinto a falta da minha casa que só é minha há 1 ano. Sinto a falta da minha rotina. Sinto a falta de não sentir a falta de nada.

Por outro lado, estas experiencias são muito enriquecedoras e são alimento para a Alma e são sobretudo “viver”. Viver coisas novas , viver emoções novas e sentir.
Todos os dias, acordo num apartamento que podia ser o meu em Portugal, com as comodidades todas. E todos os dias, quando chego à rua me surpreendo com o barulho e com os cheiros desta cidade. Parece que entro numa nova dimensão e que todos os dias são o 1º dia. Todos os dias me surpreendo quando o Manucho vem ter comigo a anda ao meu lado até ao carro. Todos os dias me surpreendo quando chego ao carro e vejo o limpa para-brisas levantado para mostrar que foi limpo. Todos os dias me surpreendo quando vejo o meu carro a brilhar…

Todos os dias me surpreendo quando o Manucho me conta as desgraças da vida dele e porque “precisa” de dinheiro ou de sapatos.
“ O fungi acabou, meu Camba, só tenho 2 pacotes de massa. Fim de semana foi mau”
“Foi mau porquê  Manucho ?”   pergunto
“ Foi mau porque acabou o fungi , meu camba !”
Ingenuidade minha!

Mesmo sabendo que a maioria deles inventa coisas todos os dias para nos “sacar” dinheiro, toca-me porque mesmo os problemas fingidos são coisa pouca comparados com os problemas reais deles do dia-a-dia.

Finjo acreditar nas desgraças para justificar o dinheiro que lhes dou, finjo não me preocupar com os seus problemas reais quando me mostram uma receita de farmácia por aviar, quando sei que aquela receita é provavelmente falsa e antiga.

Ai, sim consigo fingir.

Só não consigo fingir as saudades que sinto daqueles que Amo e todos os dias, no final do dia, quando entro neste apartamento vazio, a cheirar a limpo, sinto a falta deles; sinto que não estou em casa.