VISTO DAQUI.... NÃO SEI

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Uma noite como as outras


Poderia ter sido uma noite como outras noites. Poderia ter sido uma noite em que duas pessoas se conhecem melhor e sentem o sabor dos primeiros beijos, o calor dos primeiros abraços. Poderia ter sido uma noite normal.

No hall daquele hotel, naquela noite chuvosa, a despedida deveria ter sido feita na entrada, com esse beijo e esse abraço. Era o normal naquela situação.

Conheciam-se há poucos dias e tinham partilhado apenas algumas horas em conjunto. A razão ditava uma despedida calorosa, um beijo prolongado e um “até amanhã”.

Mas a razão nem sempre tem razão e naquela noite, sem o saberem, sem o premeditarem, ambos queriam mais.

As poucas horas e os poucos dias passados juntos, não aconselhava a mais.

Foi de uma forma simples e sem mais que com uma vontade de prolongar aquele abraço e aquele beijo que quase sem se aperceberem caminharam para o quarto de hotel.

Era o quarto onde ela deveria ter dormido sozinha, talvez sonhando com ele, talvez não. Era o quarto quente que ele só deveria ter imaginado ao caminhar sobre a chuva miúda, mas persistente que caia naquela noite ainda fria.

Era a cama quente que eles não deveriam ter partilhado.

Quando ele saiu para a chuva miúda, já era dia … já a noite tinha acabado.

Ela tinha adormecido tranquilamente na cama quente e quase nem se apercebeu da saída dele; o corpo dela, suado, agridoce, cheirava ainda ao corpo dele, enquanto ele caminhava sobre a chuva.

Tinha parecido um sonho e ela enrocava-se nos lençóis ainda húmidos.

Foi o frio que a fez enfiar-se debaixo dos lençóis, ainda vestida ; era a busca de um conforto que só mais tarde encontrou nos seus braços , já sem roupa.

Poderia ter sido uma noite como as outras, mas não foi.

Aquela cama não era uma cama qualquer e enquanto caminhava sob a chuva miúda, ele sabia que aquela cama era a cama dele, seja de ferro, de madeira, em qualquer parte, a cama dele era a cama onde ela estava.

Ela tinha entrado na vida dele da mesma forma como ele tinha entrado na cama dela… Como se lá pertencesse e tivesse pertencido sempre.

Mal a conhecia, mal sabia quem era, mas há noites que não são feitas para ser uma noite como as outras e camas que são feitas para serem nossas.


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