
No hall daquele hotel, naquela noite
chuvosa, a despedida deveria ter sido feita na entrada, com esse beijo e esse
abraço. Era o normal naquela situação.
Conheciam-se há poucos dias e
tinham partilhado apenas algumas horas em conjunto. A razão ditava uma
despedida calorosa, um beijo prolongado e um “até amanhã”.
Mas a razão nem sempre tem razão
e naquela noite, sem o saberem, sem o premeditarem, ambos queriam mais.
As poucas horas e os poucos dias
passados juntos, não aconselhava a mais.
Foi de uma forma simples e sem
mais que com uma vontade de prolongar aquele abraço e aquele beijo que quase
sem se aperceberem caminharam para o quarto de hotel.
Era o quarto onde ela deveria ter
dormido sozinha, talvez sonhando com ele, talvez não. Era o quarto quente que ele
só deveria ter imaginado ao caminhar sobre a chuva miúda, mas persistente que
caia naquela noite ainda fria.
Era a cama quente que eles não
deveriam ter partilhado.
Quando ele saiu para a chuva miúda,
já era dia … já a noite tinha acabado.
Ela tinha adormecido
tranquilamente na cama quente e quase nem se apercebeu da saída dele; o corpo
dela, suado, agridoce, cheirava ainda ao corpo dele, enquanto ele caminhava
sobre a chuva.
Tinha parecido um sonho e ela
enrocava-se nos lençóis ainda húmidos.
Foi o frio que a fez enfiar-se
debaixo dos lençóis, ainda vestida ; era a busca de um conforto que só mais
tarde encontrou nos seus braços , já sem roupa.
Poderia ter sido uma noite como
as outras, mas não foi.
Aquela cama não era uma cama
qualquer e enquanto caminhava sob a chuva miúda, ele sabia que aquela cama era
a cama dele, seja de ferro, de madeira, em qualquer parte, a cama dele era a
cama onde ela estava.
Ela tinha entrado na vida dele da
mesma forma como ele tinha entrado na cama dela… Como se lá pertencesse e
tivesse pertencido sempre.
Mal a conhecia, mal sabia quem era,
mas há noites que não são feitas para ser uma noite como as outras e camas que
são feitas para serem nossas.