
Nesse dia não serei uma estrela
no céu porque não estarei lá nem cá. Serei, se o permitires, um sorriso, serei
um abraço, serei um ombro, serei aquilo que fui enquanto cá estive, enquanto
aprendia a ser o que nunca soube verdadeiramente mas que nunca desisti de
tentar saber, ser pai.
Serei um grito, porque também os
houve, serei a mão na cara no dia em que a minha paciência se esgotou, com
culpa tua mas também com muita culpa minha. Serei o olhar severo, reprovador,
mas também cúmplice e orgulhoso. Serei o castigo mas serei também a recompensa,
serei a voz grossa que te enervava mas serei também a voz doce que tanto
gostavas. Serei a dor da injustiça mas serei também a razão que por vezes
encontravas nos meus queixumes.
Serei a mão dada, as cavalitas
depois da idade, serei o coração que batia nos teus ouvidos e que não sabias o
que era mas te embalava, serei o cheiro que te confortava quando te chegavas a
mim, serei o murmúrio que ouvias do teu quarto e te sossegava quando acordavas.
Tive, tenho e terei sempre orgulho
no que és, no que te tornaste nesta caminhada nada fácil que é estar aqui, para
onde não pediste para vir e onde um dia chegaste a chorar.
Cresceste, dia após dia,
centímetro após centímetro até seres aquilo que és hoje que é a base daquilo
que serás amanhã mas ainda é e será sempre igual, ao dia em que choraste pela
primeira vez.
Talvez não te tenha dito
suficientes vezes que te amava, talvez não tenha dito suficientes vezes o que
sentia mas sabes, é quase como a luz do dia que volta depois de todas a noites,
sabemos que está lá, não pensamos nela, porque ela não nos falha.
Digo “é quase”, porque muitas
vezes te falhei, muitas vezes não fui o que precisavas. Não há livros para
tudo, não há ensinamentos suficientes no Mundo para aprender a ser aquilo que mais
precisavas em cada momento da tua vida. Demasiadas vezes a vida não me permitiu
ser aquilo que queria ser ou aquilo que deveria ser para ti. Foi culpa da vida
mas também foi culpa minha
Aproveito por isso, este momento,
para te pedir desculpas por aquele dia em que não entendi o que te ia na alma,
por aquele dia em que te julguei, por aquele dia em que não me apercebi que já
tinhas crescido; por todos os dias em que te falhei, por exagero, por omissão,
por ausência ou simplesmente porque não soube fazer melhor.
Aproveito também este momento para
te dizer que estou aqui e espero ainda estar muito tempo, se o tempo assim o
permitir e que vou errar muitas mais vezes se tu assim o permitires.